DESTRINCHANDO A COMIDA REGIONAL
EDITORIAL
COMIDA, IDENTIDADE E PERTENCIMENTO
O alimento é o que move as pessoas. Metabolicamente falando, realmente o é: nossa energia vem do que comemos. O que geralmente se aprende na escola - os grupos de carboidratos, proteínas, hortaliças e legumes - nos oferecem a sustentação necessária para sobrevivermos.
Entretanto, a movimentação por meio da comida pode ir além da “simples” sobrevivência. Com o passar do tempo, a mesa do café, almoço ou jantar se tornou espaço de socialização e de compartilhamento de sabores. E, assim como outras expressões sociais, a culinária ganhou feições específicas, a partir da conjuntura sócio-histórica na qual se insere.
É nessa perspectiva que se destaca a culinária regional. Próxima aos indivíduos diariamente, ela nem sempre tem a importância reconhecida para o desenvolvimento social e econômico do Estado. Social porque está diretamente ligada com quem somos e porquê somos. Econômico porque cria oportunidades de emprego, movimenta o turismo e ainda promove a valorização do produtor local.
Falando em Ceará, buscamos identificar o que a comida regional cearense é para as pessoas. Como ela está associada à autoestima e à tradição e, principalmente, à lembrança de casa. Perguntamos, tanto para quem foi, quanto para quem veio, o papel do alimento nas suas vidas. Nosso objetivo é provocar reflexões sobre o valor da cultura alimentar cearense. Como produção do Laboratório de Jornalismo Multimídia da Universidade Federal do Ceará (UFC), apresentamos o especial Pitada de Saber. Deguste!
A COMIDA REGIONAL CEARENSE
O que te remete à comida regional?
O QUE É COMIDA REGIONAL?
"
É uma invenção humana. Ela é exatamente o encontro entre as imposições da natureza e a liberdade humana. Cada local vai construir sua cultura alimentar nessa tensão. É aquilo também que a gente se apropria, aquilo que a gente consegue converter entre nós. E pela prática, pela presença permanente, ela [cozinha regional] vai ganhando uma feição cearense.
Kadma Marques Rodrigues
Coordenadora do Observatório Cearense da Cultura Alimentar (OCCA). Trabalha com sociologia da arte e da cultura alimentar
MAPA DA COMIDA REGIONAL EM FORTALEZA
Percorremos Fortaleza para compreender a culinária regional cearense.
Clique nos ícones e descubra o por trás das pautas do especial Pitada de Saber!
A ORIGEM DO PRATO NA MESA
O historiador e gastrônomo Roberto Araújo comenta a origem de alguns
dos pratos típicos do Ceará
Fábio Lima/O POVO
Pratinho
Possivelmente surgiu das quermesses de Igrejas, nas épocas em que era preciso arrecadar dinheiro para as festividades de final de ano. Para isso, os fiéis vendiam refeições servidas em pequenos pratos.
Nação Nordestina/Divulgação
Sarapatel e Sarrabulho
Preparada com carne de criação, principalmente na época de muita seca, a preparação do sarapatel vem dos guisados portugueses. Como o boi era destinado para venda, os porcos e cabritos eram criados para consumo familiar.
Cuscuz
Antes chamado de pão de milho, a forma que ele chegou ao Estado ainda é um mistério. Entretanto, a maneira que o prato era preparado antigamente é igual à preparação do couscous marroquino, lacuna a ser preenchida por pesquisas que investiguem a relação entre eles.
Carne de sol
No século XVIII, a principal atividade econômica do Ceará era a pecuária. Foi quando surgiram as charqueadas, técnicas de salga e secagem das carnes para preservação. Assim nasceram comidas como o charque e, claro, a carne de sol.
Prefeitura Fortaleza/Divulgação
Buchada
A buchada tem forte influência portuguesa. Portugal possui pratos semelhantes com bucho, cuja preparação foi trazida do norte da África. O mesmo acontece com a panelada.
Baião de dois
Por mais que o baião de dois seja um dos pratos mais reconhecidos como cearense, registros de preparo dele só surgiram no século XX. Antes disso, o arroz era caro e não era consumido por famílias cearenses.
PRATINHO NA BAGAGEM
A antropóloga Diana Trujillo discute a relação identidade-comida e reforça que a culinária regional não está fixa a uma geografia. Ela viaja com as pessoas, perpetuada pelas técnicas utilizadas no preparo e pelo sentido de pertencimento que ela oferece à população. Como se dá a relação dos cearenses que moram fora do Estado com a comida regional?
Clique nos ícones e descubra:
IDENTIDADE FORA DE CASA
Crises econômicas, guerras ou novas perspectivas de vida. Estrangeiros - de dentro ou fora do País - encontram no Ceará oportunidades de recomeço. Acompanhados da família, são seguidos pelas próprias culinárias regionais, que, além de aliviar a saudade de casa, tornam-se fonte de renda. Cinco estrangeiros contam suas histórias de mudança, adaptação e procura por um ambiente familiar em terras alencarinas por meio da comida:
NA VOZ DA ESPECIALISTA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Remessas: cozinha regional e construção da identidade panamazônica em processos de migração
Diana Trujillo
ANTROPÓLOGA SOCIAL
COMIDA REGIONAL E PERTENCIMENTO
Quando viajamos, estamos dispostos a entender e aprender os códigos sociais do local que visitamos. Eles contribuem para que sintamos que pertencemos àquele lugar e que nossa identidade esteja conectada à região, por meio de memórias coletivas que fazem você se “encaixar” . A comida, além de transportar símbolos e códigos, também transporta patrimônio.
RECEITAS NA PALMA DA MÃO
O livro de receitas é ótimo representante da perpetuação de técnicas para as gerações futuras. Nele, nossos familiares registraram as receitas típicas de nossas famílias e regiões. Inspiradas nisso, decidimos criar nosso próprio livro de receitas digital no Instagram!
Mas a melhor parte é que também estamos o disponibilizando em pdf, para você levar o livrinho para onde quiser, independente de conexão Wi-Fi! Saboreie:
EQUIPE
Estudantes do 6º semestre de Comunicação Social - Jornalismo na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Amantes da comida e das histórias contadas por ela!