DESTRINCHANDO A COMIDA REGIONAL
VOLTAR PARA CASA NA PRIMEIRA MORDIDA
Cidade do México
Estados Unidos Mexicanos
Idioma: espanhol
Área: 1.958.201 km²
População: 123.675.325 habitantes (2017)
IDH: 0,774 (2017)
Moeda: Peso mexicano
capital do México
Os dez anos passados na Espanha e um ano de vivência no México fazem parte da identidade do chef João Alberto, hoje proprietário do restaurante Peón Mexicano, localizado no bairro Alagadiço Novo, em Fortaleza. E por quê Peón?
“Comecei a trabalhar lá na Espanha e o primeiro emprego que eu consegui lá foi de pedreiro, de peão de obra, que lá é peón de obra. Eu trabalhava de peão e quando eu voltei, há 12 anos, meus amigos criaram a marca. Eles disseram ‘não, uma vez peão, você vai morrer Peón’, e colocaram esse nome.”
A história do Peón Mexicano está atrelada a história de João Alberto. Montserrat, engenheira química e esposa de João, é mexicana. “A minha esposa cozinha muito bem, e nós moramos um ano no méxico também, então a cozinha mexicana veio para mim como paixão”, comenta. As dificuldades relacionadas à inserção no mercado da gastronomia quando voltou para o Brasil, em 2008, também foram motivadoras para João abrir o próprio negócio.
“Quando eu fui procurar trabalho de chef de cozinha em 2007, 2008 as pessoas ofereciam salários, assim, de achar graça, que você olhava e falava 'cara, eu sou um chef formado, eu trabalhei em navio'. Diziam 'não, veja bem, é a realidade nordeste'. É, você tá falando de realidade ‘nordeste’, mas seus preços não são realidade ‘nordeste’, tem alguma aí no meio do caminho. Aí eu vi que ou eu abria o meu restaurante, ou eu ia seguir outra carreira, não a de cozinheiro."
És una delícia!
U
m dos primeiros contatos de João Alberto Studart com o estrangeiro vem do sangue, por ser filho de pai brasileiro e de mãe espanhola. É nesse lá e cá de culturas que João ou Juan, como preferir, têm vivido.
Assim como outras culinárias, a mexicana demanda ingredientes específicos para ser reproduzida no Ceará. No Peón Mexicano, grande parte dos temperos é importada, uma vez por ano, do México. Já a pimenta, por exemplo, é plantada em terras alencarinas, mas em condições climáticas específicas. Para tanto, a família possui um sítio na serra de Guaramiranga, à cerca de 100 km de Fortaleza e com altitude semelhante a de Guadalajara, no México. João também se orgulha de deter todo o processo de produção de sua cozinha: “Somos o único restaurante do Nordeste que faz as massas mexicanas, as tortillas, os totodos, os nachos - a gente faz tudo”.
O “fazer tudo” está refletido na experiência que se promove ao cliente. Para o chef, o prato que é um dos carros-chefes do estabelecimento, o nacho, nem sempre é preparado da maneira adequada em outros locais. Muitas vezes, são servidos apenas salgadinhos industrializados como se fossem o ‘prato’. Por isso, João ressalta a importância de conhecer e valorizar aquilo que se cozinha.
“A cozinha é muito da identidade, fala muito de uma pessoa. Ela diz muito do cozinheiro, da pessoa que está fazendo aquela comida. Como é que uma pessoa que nunca foi ao México, que não sabe onde fica o país, quais temperos utilizar, que nunca provou uma comida no México, que nunca…. respirou, nunca viveu o México. Como é que essa pessoa vai poder cozinhar e transmitir isso no prato dela? Eu acho que ela não consegue.”
No Ceará, o cardápio mexicano teve que ser adaptado ao local, o que João chama de “paladarização” do cardápio. A quantidade de verdura nos pratos foi diminuída e o ardor das pimentas, reduzido, visto que o cearense “não gosta muito de verdura, não” e nem tanto de “pimenta ardida”.
Lembrança de casa
Não só o México, mas também países da América Central, como a Costa Rica e a Guatemala, são os locais de origem de alguns frequentadores do Peón Mexicano. Como conta João Alberto, eles aparecem “vez por outra”, dizendo “ai, muchacho, hoje eu vim porque estava com saudade de casa. E aqui escuto a música da minha casa, sou atendido em espanhol, eu me sinto em casa”.
A relação pessoal de João Alberto com a culinária vem desde as tortillas de patatas, que a avó espanhola fazia, ainda nos anos 80, quando o visitava no Brasil. Hoje, é a família do Peón que traz alimentos mexicanos dos quais têm saudade, que variam entre linguiças, queijos e bolachas. Para o chefe, a experiência é única.
Você sente, você viaja. Naquela primeira mordida, você volta pra casa. É uma sensação muito gostosa que a comida, a gastronomia te faz. Quem tem uma referência de outro país, na hora que dá uma mordida, você pode estar de olhos vendados, você pode estar com a boca fechada… Se passarem um cheiro próximo ao teu nariz, ou o sabor na tua boca no teu paladar, tu volta na mesma hora para aquele lugar, para aquela situação.
O espaço do Peón Mexicano remete às tradicionais casas do país, como explica o chef João Alberto. As bandeirinhas coloridas e as toalhas de mesa são alguns dos elementos que comprovam a veia mexicana dos proprietários
Funcionamento: de quarta à domingo, de 18h até meia noite
Endereço: Avenida Engenheiro Leal Lima Verde, 2280 - Alagadiço Novo
Peón Mexicano