transformando as pastas, principalmente, em algo puramente ítaloargentino. É o que representa o Del Plata Pastas Frescas, restaurante do argentino Gerardo Vega, de 50 anos. 

 

Apesar da descendência italiana herdada dos bisavós, o intuito de Gerardo nunca foi passar-se por estrangeiro europeu. Na verdade, a italianidade do proprietário surge como aspecto de homenagem aos imigrantes que transformaram o sul da América Latina como novo centro cultural de pastas e churrasco. É dessa memória que surge o nome do restaurante, em honra à região banhada pelo rio De La Plata e colonizada pelos europeus: Argentina, Uruguai e Paraná. 

 

Entretanto, a trajetória do restaurante Del Plata é bem mais recente que a do dono, a mente por trás das massas artesanais servidas diariamente no espaço. Foi no casamento de um amigo argentino com uma brasileira que Gerardo encontrou a razão para se aproximar do Brasil, ao se apaixonar por uma mulher na celebração. Como todo bom começo de história, o sentimento foi recíproco, e não demorou muito para ele voltar para a Argentina com uma esposa. 

 

Viveram por lá um ano e meio, quando a crise econômica argentina de 2001 começou a preocupar o casal em relação ao futuro. Na época, eles aguardavam a primeira filha e decidiram mudar para o Brasil na esperança de uma situação política e econômica mais controlada. Até então, Gerardo trabalhava com vendas, mas a mudança de país o fez sentir como “um peixe fora d’água”. A partir desse sentimento, ele procurou conforto nas lembranças da infância: “Eu me lembro de chegar [na casa da avó] e ver uma mesa enorme cheia de raviolis, fettuccines, e nesse momento eu quis resgatar um pouco isso para que minhas filhas provassem esse tipo de massa e vivessem um pouco isso”, conta.

 

Foi assim que o Del Plata surgiu, primeiramente como fonte de renda complementar. O cenário mudou quando Gerardo foi demitido em dispensa massiva da empresa em que trabalhava, levando-o a tornar o restaurante na principal forma de pagar as contas. A proposta do empreendimento, entretanto, permaneceu a de preparar massas artesanais e esbanjar da criatividade como chef, sem as regras das receitas tradicionais.

 

O motivo para o desprendimento para com o engessamento das tradições está nas próprias referências do argentino. Foi com os pais que ele aprendeu a cozinhar e, segundo Gerardo, eles tinham o dom de fazer deliciosos banquetes com o que estivesse disponível. Além disso, a ousadia na maneira de preparar as massas italianas também é perceptível pelo uso de produtos cearenses nos pratos. O hábito é oriundo da necessidade de tornar o cardápio mais acessível ao evitar ingredientes importados que tornem os produtos mais caros. 

 

Para isso, é usar a imaginação e desenvolver técnicas que valorizem queijos coalhos do Ceará em detrimento dos parmesões italianos. “Uma das características que eu vejo dos imigrantes italianos, talvez seja de qualquer imigrante, mas eu vejo a dos italianos, é que quando eles chegaram [à América] não tinha a possibilidade de trazer ingredientes, e aí eles foram e realmente adaptaram a coisas que tinham [disponíveis]”, inspira-se o argentino.  

 

Ainda que a saudade de casa não seja intensa para Gerardo, os velhos tempos são compartilhados com saudosismo, principalmente quando o assunto é a mesa de domingos na casa da avó, repleta de massas e felicidade. “Aqui no Brasil existe muito o costume de sair para comer para encontrar os amigos. Na Argentina é diferente. A saideira é encontrar os amigos na casa de alguém, com uma mesa recheada de comidas”, relembra. Vem daí o objetivo principal do Del Plata: ser espaço para encontros afetuosos acompanhados de deliciosas pastas.